O SINDICATO ELEVADO A QUATRO
O Sindicato de Poesia
comemora o dia 21 de Março, Dia da Poesia, não com um, não com dois, não
com três, mas com quatro intervenções poéticas, em vários locais da cidade.
Ao longo de um percurso
escolhido para ser central e, por isso, mais funcional, e a partir das 18
horas, o Sindicato dá a ouvir a poesia de poetas tão (des)conhecidos como o
bracarense João Penha (na Biblioteca Pública de Braga e a convite desta), numa selecção de textos
realizada por Henrique Barreto Nunes. Uma hora mais tarde, na Livraria
Centésima Página, o Sindicato dirá poetas praticamente desconhecidos que, por
esta ou por aquela razão, ficaram plasmados em algumas colectâneas que os anos
fizeram esquecer, numa selecção (des)empoeirada de Eduardo Jorge Madureira. Às
21 horas, no Café A Brasileira, e para contrapesar este acto poético, o
Sindicato dirá poetas que são recorrentes nas bocas sindicais, seleccionados
por Marta Catarino. E, uma hora depois, no Edifício dos Congregados,
Universidade do Minho, à volta de um piano, o Sindicato cantará/dirá um
conjunto de poetas que sofreram a intervenção de uns quantos compositores,
quase todos contemporâneos uns dos outros, numa selecção da soprano bracarense
Raquel Mendes.
A estes quatro momentos
poéticos, quase peregrinação, podem assistir, livremente, todos os que se
quiserem associar a esta poética comemoração. Podem assistir apenas a uma, ou a
duas, ou a três, ou mesmo às quatro manifestações poético-plenárias, ou a
nenhuma. Ou podem estar na véspera, no Porto, no espaço Mira, a assistir a
apenas uma das partes. Ou não. E ficaremos amigos, como sempre. Sonetos
perfeitos com chaves d'ouro, quadras e tercetos para a posteridade.
António Durães
18h00 – Biblioteca
Pública de Braga/Largo do Paço/Salão Medieval – UM POETA (DES)CONHECIDO DE
BRAGA (João Penha) – selecção de poemas por Henrique Barreto Nunes
com: Ana Cristina
Oliveira, António Durães, Daniel Pereira, Dinarte Branco, Maria do Céu Costa,
Sebastião Maia
19h00 – Livraria Centésima
Página – UNS POETAS QUE NINGUÉM CONHECE – selecção de poemas por Eduardo
Jorge Madureira
com: Ana Arqueiro, Carla Carvalho, Dalila Monteiro,
João Figueiredo, Teresa Ferreira
21h00 – Café A
Brasileira – UNS POETAS QUE TODA A GENTE CONHECE – selecção de textos por
Marta Catarino
com: Estefânia
Surreira, Luís Barroso, Marta Catarino, Paulo Pereira, Teresa Monteiro
(Nota:
este recital será apresentado também no espaço MIRA, Porto, na véspera)
22h00 – Edifício dos
Congregados, Universidade do Minho – UNS POETAS CANTADOS/recital de canto e piano – selecção por
Raquel Mendes
com: Gaspar Machado,
Hugo Peres (piano), Joana Vilaverde, Raquel Mendes (soprano)
JOÃO
PENHA nasceu em Braga em 1839,
onde passou uma infância descuidada, até conseguir ir para Coimbra que lhe
moldará a sua personalidade. Ali permanece vários anos até conseguir
inscrever-se na Universidade, primeiro em Teologia em 1866 e logo a seguir em
Direito.
Estudante em horas muito vagas, deixou uma
perdurável fama de boémio inveterado, de cáustica irreverência, mas também de
poeta de qualidade, vivendo na Lusa Atenas até aos 34 anos, quando finalmente
concluiu a licenciatura em Direito.
Conviveu com as maiores figuras que então
frequentaram a universidade, viveu a Questão Coimbrã, foi íntimo de alguns dos
mentores da Geração de 70 (Antero, Eça). Fundou em 1868 “A Folha”, marcante
revista literária em que colaborou assiduamente, bem como noutros jornais e revistas
académicos, onde a parte da sua formação clássica se revela, mas sendo seguidor
dos ideais de um certo romantismo, não enjeitando depois o parnasianismo que
bebeu na leitura de poetas franceses.
Regressou a Braga em 1874, onde montou banca de
advogado, fundou outra revista e publicou finalmente o seu primeiro livro,
“Rimas” (1882).
A mulher e o amor, os prazeres da mesa e do vinho,
a natureza, são temas que enformam grande parte das suas composições, sobretudo
sonetos.
Em Braga pode dizer-se que se afastou do “mundo”,
embora continue grande leitor e mantenha correspondência assídua com os seus
pares, dedicando-se à advocacia e ao sustento de numerosa família, suspirando
sempre pelo amor de uma mulher que nunca alcançou.
Publicou mais alguns livros (“Viagem por terra ao
país dos sonhos”, 1898; “Por montes e vales”,1899; “Novas rimas”, 1905; “Ecos
do passado”, 1914; “Últimas rimas”, 1919; e postumamente “O canto do cisne”,
1923), colaborando em prosa e verso em muitas publicações periódicas.
Viveu os últimos anos com grandes dificuldades,
tendo sobrevivido graças a uma pensão vitalícia que o Governo lhe atribuiu.
Morreu em 1919 e Braga consagrou-lhe a memória
erigindo-lhe um busto e atribuindo o seu nome a um largo.
Henrique Barreto Nunes
Alinhamento do recital
UM POETA DE BRAGA
(18h00, Biblioteca Pública
de Braga/Largo do Paço/Salão Medieval)
1. Almôço Campestre / António Durães +
Daniel Pereira + Sabastião Maia
2. Autobiographia / António Durães + Dinarte
Branco
3. No Verão / Ana Cristina Oliveira
4. O Juiz / Céu Costa
5. A Aldeia / Daniel Pereira
6. Freira / Ana Cristina Oliveira
8. O Eterno Feminino / Céu Costa
9. A Avaliação / António Durães + Dinarte
Branco
10. Record / Ana Cristina Oliveira
11. Lamúrias / Céu Costa
12. O Brito / Daniel Pereira
13. A Ré / Ana Cristina Oliveira
14. A Derrocada / Céu Costa
15. VIII Canção de Bohemios / Daniel Pereira
16. Última Vontade / António Durães + Dinarte
Branco
17. Como Eva / Céu Costa
18. Em Coimbra / Daniel Pereira
19. O Fim / António Durães + Dinarte Branco
UNS POETAS
QUE NINGUÉM CONHECE
O Sindicato de Poesia homenageia os obreiros da poesia anónimos.
Publicaram no início do século XX, mas a luz de Fernando Pessoa, Mário de Sá
Carneiro e José de Almada Negreiros obscureceu-os. Ficaram À Sombra de Orfeu,
título da obra de Maria Estela Guedes, que os antologiou num volume da Colecção
Textos Esquecidos. A sombra ocultou mais uns do que outros.
Entre os mais ignorados, encontram-se o Senhor general Fernandes Costa
(1848-1920); a Senhora professora D. Angelina Vidal (1853-1917); o Senhor
Narciso de Lacerda (1858-1913), funcionário público; o Senhor Paulino de
Oliveira (1864-1914), cônsul em São Paulo, casado com Ana de Castro Osório,
grande amiga de Camilo Pessanha e editora de Clepsidra; a Senhora D.
Maria O’Neill (1874-1932), adepta do espiritismo; o Senhor Rodrigo Solano
(1879-1910), professor do liceu e, a seguir, jornalista; e o Senhor Duarte de
Viveiros (1897-1937), formado em Direito.
O primeiro poeta apresentado no livro À Sombra de Orfeu é o Senhor
Dr. João Penha, ilustre bracarense, também advogado.
Eduardo Jorge Madureira
Alinhamento do
recital UNS POETAS QUE NINGUÉM CONHECE
(19h00, Livraria
Centésima Página)
1. Aparências, Maria O’Neill / Ana Arqueiro
2. “Na trapeira que dá para uns telhados”,
Rodrigo Solano / Teresa Ferreira
3. Estefânia, Fernandes Costa / Carla Carvalho
4. Lady Quimera, Duarte de Viveiros / João Figueiredo
5. A aragem, Angelina Vidal / Dalila Monteiro
6. Ao boi, Rodrigo Solano / Carla Carvalho
7. A lua, Angelina Vidal / Teresa Ferreira
8. “Se creio em ti, meu Deus!”, Narciso de
Lacerda / João Figueiredo
9. Soror Mariana, Fernandes Costa / Ana Arqueiro
10. Partiste esta manhã, Maria O’Neill / Teresa
Ferreira
11. Rastros, Paulino de Oliveira / Dalila Monteiro
12. Antes a dúvida…, Maria O’Neill / Carla Carvalho
13. Coro das pombas, Angelina Vidal / Dalila
Monteiro
14. Remorsos do mar, Rodrigo Solano / Ana Arqueiro
15. Inês de Castro, Fernandes Costa / Carla Carvalho
16. Lira de Orfeu, Rodrigo Solano / João Figueiredo
17. Como eu amo, Maria O’Neill / Teresa Ferreira
18. Resposta, Paulino de Oliveira / Ana Arqueiro
19. Crepuscular, Paulino de Oliveira / Dalila
Monteiro
20. Aos desesperados, Duarte de Viveiros / João
Figueiredo
UNS POETAS
QUE TODA A GENTE CONHECE
Desde 1996, muitos foram os poetas que o Sindicato de Poesia respirou,
trabalhou, partilhou, trouxe a plenário. De Teixeira de Pascoaes a Ana Luísa
Amaral, de Rimbaud a Beckett, de Adélia Prado a Maiakovski. Aqui diremos apenas
poetas portugueses que fazem parte do nosso imaginário coletivo: os que mais
revisitamos, os que mais nos marcaram, em suma, os que ficaram connosco e
connosco respiram. Não há nenhum critério na seleção além do dos afetos.
De diferentes épocas, estilos e temas, algumas das vozes que representam a
vibrante diversidade da poesia em português.
Marta Catarino
Alinhamento do
recital UNS POETAS QUE TODA A GENTE
CONHECE
(21h00, Café A
Brasileira)
1. Já, Alberto Pimenta / Paulo Pereira
2. Pátria, Sophia de Mello Breyner / Teresa
Monteiro
3. Portugal, Jorge Sousa Braga / Luís
Barroso
4. Peregrino e hóspede sobre a terra, Ruy
Belo / Estefânia Surreira
5. No país, Mário de Cesariny / Marta
Catarino
6. A sereia das pernas tortas, Adília Lopes
/ Estefânia Surreira
7. Esplanada, Manuel António Pina / Paulo
Pereira
8. Uma pequenina luz, Jorge de Sena /
Teresa Monteiro
9. Nunca conheci quem tivesse levado porrada,
Fernando Pessoa / Marta Catarino
10. Homens que são como lugares mal situados,
Daniel Faria / Paulo Pereira
11. Abertura, António Gancho / Luís Barroso
12. Ninguém meu amor, Sebastião Alba / Estefânia
Surreira
13. Receita para fazer o azul, Nuno Júdice /
Teresa Monteiro
14. Um poema, Herberto Helder / Marta
Catarino
UNS POETAS
CANTADOS
Muitos foram os poetas que, ao longo de vários séculos, captaram a
atenção de inúmeros compositores para musicarem parte da sua obra. Neste
recital, embarcaremos numa viagem poético-musical através do género da canção
portuguesa para voz e piano, que nos revelará uma diferente abordagem da
palavra: a palavra com voz cantada, frente a frente com a palavra com voz
falada. Poemas de Luís de Camões, Almeida Garret, Fernando Pessoa, Eugénio de
Andrade, António Correia de Oliveira, Florbela Espanca e António Sardinha serão
escutados assim mesmo, tal como os poetas os compuseram, e, logo a seguir,
potenciados pela música de Jorge Croner de Vasconcellos, Victor Macedo Pinto,
António Fragoso, Vianna da Motta, Eurico Carrapatoso, Fernando Lopes Graça e
Ivo Cruz, sendo, alguns destes, contemporâneos dos poetas mencionados.
Raquel Mendes
Alinhamento do recital
UNS POETAS CANTADOS
(22h00, Edifício dos
Congregados, Universidade do Minho)
soprano: Raquel
Mendes
piano: Hugo Peres
1. “Descalça vai para a fonte”, Luís de
Camões, Jorge Croner de Vasconcellos / Joana Vilaverde
2. “Pus meus olhos numa funda”, Luís de
Camões, Jorge Croner de Vasconcellos / Gaspar Machado
3. “Na fonte está Leonor”, Luís de Camões,
Jorge Croner de Vasconcellos / Joana Vilaverde
4. “As horas pela alameda”, Fernando
Pessoa, Victor Macedo Pinto / Gaspar Machado
5. Minuete invisível, Fernando Pessoa,
Victor Macedo Pinto / Gaspar Machado
6. Eu, Florbela Espanca, Eurico Carrapatoso
/ Joana Vilaverde
7. “Impetuoso, o teu corpo é como um rio”,
Eugénio de Andrade, Fernando Lopes Graça / Joana Vilaverde
8. “A tua vida é uma história triste”,
Eugénio de Andrade, Fernando Lopes Graça / Gaspar Machado
9. Embalando o menino, António Correia de
Oliveira, António Fragoso / Joana Vilaverde
10. Soneto de Ávila, António Sardinha, Ivo
Cruz / Gaspar Machado
11. “Por teus olhos negros, negros”, Almeida
Garrett, Vianna da Motta / Joana Vilaverde
Sem comentários:
Enviar um comentário