24 de março de 2000

cinco sentidos não dizem um poema - POESIA ILUMINADA - Março 2000

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Depois de ter ante-estreado em Vila Real no passado dia 21 (Dia Mundial da Poesia) o seu recital mais recente, o Sindicato de Poesia, com a colaboração da BPB, apresenta em Braga no dia 27 de Março, Dia Mundial do Teatro, "Poesia Iluminada". Trata-se do primeiro de uma série de cinco recitais que o Sindicato tem programados para este ano. Este recital pode ser visto no Parque de Exposições de Braga, entre 27 e 31 de Março (de segunda a sexta-feira), sempre às 21.30 horas.

Neste trabalho que congrega autores como Alberto Serpa, António Ramos Rosa, Camilo Pessanha, Carlos de Oliveira, Eugénio de Andrade, Gastão Cruz, Herberto Helder, José Régio, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyne, Vitorino Nemésio e Teixeira de Pascoaes, o Sindicato procura a "luz coada pelas palavra de alguns dos poetas que tentaram encontrar a luz íntima da poesia e falar dela nas obras que foram compondo, (...) como se a luz fosse uma coisa despresente, quase ausente, que existe para lá do fogo, e as palavras de granito e argila ardessem nesse lume breve".

A selecção dos textos foi realizada por José Miguel Braga, António Durães dirigiu e Arlindo Fagundes, Daniel Pereira, Diana Basto, Fernando Coelho, Joana Prata, Laura Machado, Manuela Martinez, Marta Catarino, Renato Nóbrega e Rita Oliveira interpretam os textos.

Trata-se de um trabalho sobre a palavra, sobre o som da palavra que poderá ser ouvida vestida de diferentes maneiras: ou cantada, ou entoada, ou percutida, ecoada, ou simplesmente dita, sem ecos nem sublinhados. Para o Sindicato, é mais um (primeiro) passo na procura (para o Sindicato todos os passos são "primeiros") na profundidade das palavras, das possibilidades que as palavras oferecem e que regra geral negligenciamos.
Há uma tentativa que queremos tão clara quanto possível de, primeiro, despir as palavras, para as vestir a seguir com os tecidos menos habituais. Como se as palavras o discurso literário ganhassem múltiplas direcções e quase estivessem em oposição ao discurso físico. Dois discursos que co-habitam este recital, que correm quase paralenos: o discurso oral, (e sobretudo a elocução), aberto e abstracto; o discurso físico concreto e definido.

Sobre Poesia Iluminada, escreve António Durães no desdobrável que apoia o recital: "E se de repente descobríssemos o êmbolo que empurra as palavras, que as faz respirar uma verdade e certeza absolutas e, mesmo assim, as mantivessem num estado de total abertura a outras imagens e a outras interpretações? E se de repente a boca que profere as palavras fosse a zona avançada da batalha, e por de trás dela, se escondesse a cabeça que manda na boca que soletra as palavras? E se de repente, como num passe de mágica, se sentisse o ritmo íntimo das palavras para lá do sincopado batido das sílabas, do carimbo de letras que na praia da língua se derramam, mecanicamente, os corpos singulares das palavras igualmente gémeas? (...).
E se repente a luz coada pelas palavras de alguns dos poetas que tentaram encontrar a luz íntima da poesia e falar dela nas obras que foram compondo iluminasse a língua que lhes descobre os contornos?, como se a luz fosse uma coisa despresente, quase ausente, que existe para lá do fogo, e as palavras de granito e argila ardessem nesse lume breve?".

O Sindicato de Poesia, para além de contar com a parceria da Biblioteca Pública de Braga, é patrocinado pelo Ministério da Cultura e este recital tem ainda os patrocínios da Câmara Municipal de Guimarães e da Delegação do Norte do Ministério da Cultura. É apoiado pela Rádio Universitária do Minho, pela FotoGrafia e Parque de Exposições de Braga. Para além destes apoios, o Sindicato de Poesia para a realização deste recital contou ainda com as cumplicidades habituais do Teatro Universitário do Minho, do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio e Serviços do Distrito de Braga e da Escola Secundária de Alberto Sampaio.