2 de outubro de 2004

dj becket in the house - Junho 2004


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«DiZei Beckett in the House»

O Sindicato de Poesia tinha em carteira, e não a esgota nesta experiência, a poesia de Beckett. Queria experimentar dizer estas palavras e outras mais, e partilhá-las com os ouvidos (e os olhos) dos que, cúmplices, connosco se aventuram nestas andanças literárias.

Com Beckett disputamos nexos, seguimos o trilho dos sentidos, e percorremos as palavras às vezes estranhas, às vezes desconexas, da sua poesia, geralmente catastrofista, lírica às vezes. Versos e sentidos que são engolidos pelos outros versos que se lhes seguem, catadupa de águas torrenciais num caudaloso rio poético.

Ao propiciar-se esta experiência no espaço cultural Velha-a-Branca, a convite do BragaTempo, podemos, em paralelo, percorrer a velha casa quase esquecida da vida que nela pulsou, corpo e voz em viagem por um espaço libertado da ausência, casa agora habitada por esta voz que elogia a solidão como companheira fiel da condição humana sobre a qual tanto escreveu.

Fizemos desta casa a nossa casa e a casa das palavras de Beckett. Construímos espaços/poemas e neles pusemos outras formas de dizer, outras formas de reconhecer a palavra.

DiZei Becket in the House é, no essencial, um recital de poesia que decorre em múltiplos espaços (um pouco na sequência do experimentado em Barba, Cabelo & Etc.). Com o pulsar da poesia deste autor, tanto mais conhecido em outros registos literários que não na poesia (é autor superior de peças de teatro e sumamente considerado como dramaturgo e percursor – junto com outros - de um movimento estético designado por «teatro do absurdo»), podemos sentir o pulsar de uma vida igualmente repartida por tantos espaços, e línguas diversas.

Neste recital/instalação, ou nesta instalação poética como talvez seja mais ajustado chamar-lhe, os «espectadores» cúmplices de Sindicato são convidados a acompanhar as palavras, a seguir-lhes o ritmo, percorrendo eles também um corpo diverso, feito de degraus e portas, de sons e imagens, de luz e de trevas, de corpos e vazios. As palavras vão fazer-se ouvir, mas os corpos que as enunciam, vão pedir para que os vislumbremos igualmente e que atentemos à sua ressonância prerrogativa, à sua narratividade desconstruída.

Com esta experiência, potenciada por um espaço físico que são muitos espaços, que se desdobra em muitos espaços, labiríntico percurso, caixa amplificadora de um igualmente labirinto de versos, «coalho de palavras» como lhe chama Beckett no seu poema Caindo, (referindo-se ao resultado de um labor sobre o qual investe a sua energia), o Sindicato quer, também, mostrar um novo espaço cultural na cidade de Braga. Nascido da vontade militante de participação cívica de cidadãos comuns, este é, também, um espaço para as artes que a cidade quiser construir. Tal como o Sindicato gosta, e ideia pela qual se tem batido.


DiZei Beckett in the House

Alguns versos de Samuel, outros de Beckett na Velha-a-Branca no n.º 23 da Senhora-a-Branca

(A Velha-a-Branca é um espaço cultural gerido pelo ProjectoBragaTempo)

dias 25, 26 e 27 de Junho às 22 horas

recital-instalação poético-plástico

Direcção: António Durães

Selecção de textos: Marta Catarino

Ambientes luminosos: Margarida Alves

Video: Luís Reis Costa

Artes Plásticas a partir dos poemas Alva e Dortmunder: Miguel Meira Música Original: Tiago Oliveira E excertos de 'For Samuel Beckett' de Morton Feldeman Instalação Sonora: Tiago Oliveira, Carlos Rodrigues e Sofia Saldanha Apoio coreográfico: Cristina Mendanha Animação de informação vídeo: Noé

Os senhores (elenco): António Durães, Gaspar Magalhães, Luís Barroso, Manuela Martinez, Maria Elsa, Sofia Moreira, Sofia Saldanha e as bailarinas Inês Macedo ou Susana Cerqueira

dizem os seguintes poemas

Tédio II - Manuela Martinez

Alva - Jorge Vasquez (gravado)

Dortmunder - Jorge Mota (gravado)

Sânie I - Luís Barroso

Sânie II – Gaspar Magalhães

Serena I – Sofia Saldanha

Caindo - António Durães

Morte de A. D. - António Durães

Arenas de Lutécia – Sofia Moreira

viva morta minha casa única - Inês Macedo ou Susana Cerqueira Sigo o caminho da areia que desliza – Maria Elsa Que farei sem este mundo sem rosto e sem perguntas – Marta Catarino (em vídeo)

CUMPLICIDADES (entre outras): ProjectoBragaTempo, Biblioteca Pública de Braga, Teatro Universitário do Minho, Rádio Universitária do Minho, SomNorte Estúdios, Arte Total, Funerária de Adaúfe, Atelier Lurdes Vieira, FotoGrafia, Insólito Bar.