nota: recital incluido no festival 30 HORAS 30 ANOS DO GRANDE PRÉMIO DE LITERATURA DA dst
Informação para folha de sala dia 27 jun 23h e 28 jun 11h
Nome do recital:
ENCONTRAMO-NOS NO FINAL JUNTO À PALAVRA ÍNDICE
Texto introdutório:
Há muito tempo estivemos num café (no Porto, para que não haja dúvidas) integrados numa mostra de poesia oral, a dramaticamente chamada spokenword, sem aviso prévio. Fomos como se fossemos verdadeiros okupas mas sem o romantismo da ocupação, ocupação poética bem entendido, e foi pavoroso. Os frequentadores do tal café, não sabendo o que se iria ali passar (nem o que, entretanto, já estava a acontecer), embora estranhando, não abrandaram o seu desejo de convivialidade, esbracejando ainda mais veementemente, forçando a comunicação ruidosa, tudo isto a uma velocidade surpreendente, não deixando que os sindicalistas destacados vingassem e fizessem florescer nos jardins íntimos dos que, vá lá saber-se como, tinham ido ali para aquela precisa função de espectar outras poesias. Mesmo os empregados, insensíveis à palavra poética, berravam o mais alto que podiam, os pedidos que chegavam das mesas que iam percorrendo com a quinta engatilhada: “sai um cimbalino escaldado para a mesa sete”; “sai uma tosta mista com manteiga para o sr dr”... etc. Na sala ao lado, ou em baixo, com estridência israelita, estoiravam umas quantas bolas de bilhar que acertavam milimetricamente em cada pausa que era construída, destruindo o sentido e a alma do poema, se é que naquele momento ele ainda sobrevivia.
Enfim, um pavor.
Desde esse fatídico recital, a que habitualmente chamamos “plenário”, decidimos que nunca mais faríamos tal coisa. A não ser, de forma organizada, uma ou outra vez – principalmente n’A Brasileira, nossos cúmplices em algumas diatribes poéticas.
Mas agora os tempos são outros. Desde há uns anos que os cafés, mormente estes, são casa de livros. Os livros habitam os cafés de forma permanente, refugiam-se em estantes construídas para que eles as habitem naquele preciso lugar, ouvem as conversas dos que os frequentam, oferecem-se a leituras longínquas ou esparsas, deixam que as suas páginas impressas sejam percorridas pelos olhos dengosos dos que também consomem café. Hoje, são os livros que nos abrem as portas, que nos oferecem colo, meia hora de convívio silábico, à boleia do prémio de que se comemoram os primeiros trinta anos.
Não há muita poesia nesta selecção que hoje vos propomos. Porque quisemos seguir livremente o mapa dos premiados. E se há poetas entre eles, também os há contistas, romancistas, dramaturgos, etc. E não se estranhe que a autores premiados não correspondam textos de obras premiadas. Por exemplo: não será da árvore premiada de José Manuel Mendes, nosso cúmplice desde sempre, que sairá o fruto a consumir. Achamos ser mais interessante mostrar-vos um poema seu do último livro abocanhado pela censura no Portugal do 24 de abril. Outro exemplo: de Jacinto Lucas Pires não selecionámos um pedaço do seu excelente O Verdadeiro Actor (sem “c”), mas juntámos dois pedaços de falas da personagem Vendedor do não menos excelente Arranha Céus, peça de teatro; epor aí adiante. Palavras que nos parecem que convivem bem em cafés.
Esperamos que gostem.
Depois ENCONTRAMO-NOS NO FINAL JUNTO À PALAVRA ÍNDICE e conversamos. Que acham?
Apresentação do Sindicato:
O SINDICATO DE POESIA é uma associação cultural de Braga, fundada por um grupo de cidadãos com vontade de intervir artística e culturalmente na cidade, que se dedica à divulgação de poesia através da sua leitura mais ou menos encenada. Desde as sessões “Para acabar de vez com os estudos”, que decorreram em 1996 na sede do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio e Serviços do Distrito de Braga até hoje, várias centenas de pessoas participaram desta ideia da poesia dita e partilhada, em muitas centenas de recitais, principalmente em Braga, mas também no(s) restante(s) país(es), de Santiago de Compostela a Faro.
O Sindicato contou já com a colaboração das mais variadas instituições nestasaventuras: a Biblioteca Pública de Braga (desde sempre), a Direcção Geral das Artes, a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, a Universidade do Minho, Teatro do Campo Alegre, Companhia de Teatro de Braga, Estaleiro Cultural Velha-a-Branca, Junta de Freguesia de S.Victor, Junta de Freguesia da Sé, Coro Académico da Universidade do Minho, Teatro Universitário do Minho, CensuraPrévia, Rádio Universitária do Minho, a Universidade de Santiago de Compostela, a Direcção Regional de Cultura do Norte, assim como com profissionais de reconhecido mérito como Afonso Fonseca, Natália Luiza, João Reis, João Lóio, Cristinana Oliveira, Ana Vieira Leite, Ana Luísa Amaral, Luís Assis, Luís Miguel Cintra, Márcia Breia, Sandra Faleiro, Fernando Lapa, Miguel Carneiro, Paulo Castro, Almeno Gonçalves, Nuno M. Cardoso, Dinarte Branco, entre muitos outros.
Informação adicional:
Poemas e prosas ditos por:
Ana Arqueiro, Ana Gabriela Macedo, António Durães, Dalila Monteiro, Gaspar Machado, Inês Pires, Joana Vilaverde, Manuela Martinez, Marta Catarino
Alinhamento
SIGAM O GUARDA-CHUVA VERDE, João Luís Barreto Guimarães (AD)
O AMOR É, Nuno Júdice (MM)
CANTAR DE AMIGO, José Manuel Mendes (AGM)
NINGUÉM MEU AMOR, Sebastião Alba (DM)
NESSE TEMPO EU ACREDITAVA QUE VIVIAM ANJOS, Maria Ondina Braga (GM+AA)
EU UMA VEZ TIVE UMA NAMORADA, Jacinto Lucas Pires (MC)
AS CORES QUE MUDAM, Firmino Mendes (JV)
BARCO, Gastão Cruz (IP)
O CARTAZ DO SENHOR TÓ, Lídia Jorge (AD+IP+JV+MM+GM)
CATILINÁRIA, Luísa Costa Gomes (AGM+AA+DM+MC+AD)